segunda-feira, 28 de abril de 2008

Essa vida moderninha

Estamos vivendo de um jeito superficial. Profissionalmente, perdemos a coragem de arriscar, de sermos aquilo que realmente queremos ser quando crescermos. Todo mundo diz que a vida está difícil e que é preciso agradecer só pelo fato de se ter um emprego. Se for fixo e com registro em carteira, então, nem se fale! Mas e os sonhos?

Começamos a labuta cedo, muitas vezes antes da faculdade, e aos vinte e poucos anos já temos uma estabilidade muito estranha. Mas peraí. Não é aos vinte e poucos anos que se tem mais facilidade em arriscar, em tentar o novo, em fazer umas loucurinhas, que tudo bem, o tempo “perdido” nessas tentativas não vai ser tão perdido assim como depois dos 30? Tanta modernidade e esses velhos medos ainda nos rondam.

Se o assunto é relacionamento, o negócio fica ainda mais complicado. Liberdade! Ah, que gostoso. Podemos ir e vir, sair com quem a gente quiser, o quanto a gente quiser e, o melhor, do jeito que a gente quiser. E ninguém vai vir com moralismo para cima de nós, afinal, hoje em dia tudo é permitido. Será? Permissão talvez se tenha, nos dias de hoje ninguém tem muita moral para dizer que nunca fez ou faria isso ou aquilo. Mas e a pressão interna? Aquele medo e a pergunta “será mesmo que isso é legal?”. Se estamos namorando, temos a sensação de que estamos perdendo algo. Se estamos solteiros, bate um vazio e uma vontadezinha constante de ter alguém.

Vivemos uma época de incertezas. Você conhece alguém e começam a sair. Uma, duas, três vezes. Ninguém toca no assunto “nós”, porque o “nós” não existe. E você começa a se envolver, afinal, não estaria saindo com alguém pelo menos uma vez por semana e falando com ela quase todos os dias, seja por telefone, e-mail ou MSN, se não tivesse um pouco de interesse. Mas você não se sente no direito. Se vocês não namoram (coisa que nem entrou em questão), você tem que achar normal a outra pessoa sair com outras pessoas e tem que ter vontade de fazer o mesmo. Afinal, você está solteiro! E aí, entra o sexo, beijos loucos, risadas gostosas e muito, mas muito carinho. Carinho. Não que todo mundo tenha que estar apaixonado para fazer sexo, dar beijos loucos, risadas gostosas e carinho, claro que não. Mas na vida moderninha é possível ter isso com qualquer um e com quantos “qualquer um” a gente quiser. Quantidade e não qualidade. E o que me intriga é que no fundo essa busca louca pela quantidade, por aumentar listinhas, não vem de dentro, mas de uma imposição externa. É válido sim conhecer pessoas, trocar experiência e energia. Mas é mais válido ainda ser sincero um com o outro e perceber quando é hora de se afastar, ou quando é hora de se aproximar, de se permitir.

E isso traz de volta a vida profissional. Antigamente as pessoas começavam a trabalhar mais tarde e paravam de trabalhar mais tarde. Hoje, começamos cedo, mas também paramos cedo. Aos 50 anos, dependendo da profissão, a pessoa é considerada velha demais para aquilo. Então, aos 20 e poucos, você tem menos de trinta anos para conquistar muito dinheiro e estabilidade, e garantir um bom futuro. E o que acontece? Por imposição exterior, não sabemos quando é hora de nos afastarmos ou de nos jogar de cabeça e, o pior, não nos permitimos, nem nos arriscamos.

Temos que ser verdadeiros o tempo inteiro com nós mesmos. A verdade esta lá dentro e não do lado de fora, aos olhos dos outros. Não temos que namorar porque nos disseram que “essa vidinha de solteiro é vazia”, nem temos que terminar o nosso namoro porque falaram que a vida de solteiro é muuuuito mais divertida. Não temos que sair fazendo sexo com todo mundo porque sexo é bom, nem temos que deixar de fazê-lo porque é feio. E não temos que trabalhar em um lugar só por dinheiro e/ou porque é um lugar divertido – mas que realmente não alimenta a alma –, como não temos que sair pedindo demissão por qualquer coisa. Chega te viver sempre um passo à frente!

Caretice é relativa, modernice também. E conselho é bom sim, ajuda muito, mas cada um com a sua verdade e com as suas escolhas. Ninguém tem o direito de julgar, olhar feio ou estranhar a atitude do outro. Principalmente quando estamos quase explodindo por dentro com a vontade de poder dizer a verdade, seja em relação ao amor, ao carinho, ao afeto ou ao trabalho.

Cada um na sua, mas todo mundo junto.


Gabi - Agosto/2007

2 comentários:

Josie Moraes disse...

Que lindas! Muito legal a idéia!

Esse é um dos meus textos mais amados. Pura verdade de uma geração que está perdendo muito em não querer perder nada. Novos para muitas coisas e velhos para outras.Vivemos com vidros fechados, no trânsito, pensando nas contas. O coletivo, o "nós" está cada vez mais deixado de lado. O problema é quando as pessoas não querem pensar nem no "eu" e vivem no superficial. Nas listinhas, nas mil noites com mil pessoas, no medo da entrega, nas regras de "agora vou ficar sozinho" ou "agora vou procurar alguém". Enfim, nada é imutável. E evoluir é melhorar. Será que todos estão preparados?

Josie Moraes disse...

ahh, linkei vocês no meu "Música para... blog"

beijocas!