quarta-feira, 6 de agosto de 2008

Ando tão à flor da pele, qualquer beijo de novela me faz chorar...

Estou em conflito comigo mesma. Meu coração tá apertado, tô tentando dar um ponto final em uma certa coisa e um turbilhão de outras me tiram o chão. Tô chorona, não me reconheço em alguns momentos e preciso me encontrar, para não virar um menina que só lamenta - porque eu não sou assim! Por isso, me sinto saudosista como nunca, com saudade até do que não vivi.

Nada melhor do que um texto para lembrar do passado, das minhas raízes, do que sou, tudo aquilo que não posso esquecer. Uma homenagem à todas as pessoas que eu amo, principalmente ao meu pai, já que o dia deles está chegando.



Velha infância
Eu cresci brincando com as minhas vizinhas gêmeas em São Paulo, a Dani e a Flá, e com os filhos dos caseiros das redondezas do sítio que a gente tinha em Boituva. Eu passava as férias brincando na terra vermelha.

Acho que naquele tempo as mães eram menos neuróticas, porque a minha me deixava até brincar comidinha com panela, comida e fogo de verdade. Era arroz, mingau, macarrão e, de vez em quando, alguma coisa inventada que não dava pra comer (se bem que poucas vezes dava), como receitas com uma pitada de grama e terra.

Com meu irmão, eu ia para cima e para baixo de bicicleta, passando por vários terrenos com eucaliptos bem altos, e só voltávamos no fim do dia. Em casa tinha a casinha do poço - onde ficava o poço, claro - e onde meu pai guardava todas as ferramentas dele. Meu irmão adorava me levar para passear no carrinho de mão do paizinho e cavar uns buracos bem fundos pelo terreno em que a gente adorava entrar. Ele também gostava de construir cabanas só para meninos; e me excluía, claro. Eram cabanas bem legais, não me lembro como ele construía o teto, a porta, a divisão dos cômodos, mas tinha tudo isso. E era só para meninos, porque o banheiro (sim, tinha banheiro) era um cano que ficava na altura do meio da coxa dele e dos amigos, e só quem conseguisse fazer xixi ali, em pé, podia brincar na cabana. Já dá para imaginar o que acontecia comigo.

No banheiro da nossa casa tinha uma banheira e eu costumava tomar banho brincando de boneca – meu boneco que tinha pinto e minha boneca preta. Mas os banhos eram dados, na maioria e mais divertida das vezes, lá fora, no quintal, quando minha mãe e minhas tias juntavam as crianças para dar banho de bacia em todo mundo de uma vez só.

Nesse mesmo quintal, quando eu devia ter uns quatro anos, estava brincado fingindo que a rodinha do meu carrinho de boneca era um guarda-chuva (?!) e eu tinha que atravessar a avenida movimentada, que era a varanda do quintal, onde meu irmão fingia que era um motociclista com a sua bicicleta. Foi quando a dondoca do guarda-chuva e o motoboy se chocaram em um acidente que causou um corte na minha testa, entre os olhos. Na hora, eu tive a certeza que o ferrinho do meu “guarda-chuva” tinha furado o meu crânio, chegando até o meio da minha cabeça, ou seja, do meu cérebro. Minha mãe me levou para o hospital e me lembro perfeitamente de ter ficado deitada em uma tábua de passar roupa (!) enquanto o médico me atendia. Eu tinha certeza de que os sete pontos que me fizeram herdar uma cicatriz (que eu adoro, por sinal) igual a do Harry Potter, eram na verdade pêlos como os da sobrancelha e que iam ficar ali para sempre.

Voltando ao sítio, é de lá que vem a boa sensação que eu sinto quando chove e sobe aquele cheiro de terra molhada. Quando chovia, em vez de correr para dentro de casa, corríamos para fora, para beber água da chuva, fazer bolinhos de terra e deixar a roupa bem “limpinha” para alguém lavar depois. Mas, é claro, tínhamos roupas especiais para aquelas férias.

E por falar em bolinhos de terra, eles muitas vezes eram assados no forno à lenha do meu pai, de onde também saiam pães e pizzas de-li-ci-o-sos que ele fazia para a gente. Em algumas noites íamos todos para a cidade jantar, ver os pára-quedistas que voltavam de seus saltos com aquelas roupas estranhas, e alugar uns filmes, principalmente de terror. Para mim, o clássico daquela época é “Eu sei quem você é, eu vi o que você fez”. Íamos para a cama morrendo de medo, perfeito. Em outras noites, íamos para algum boteco bem local, onde tocavam forrós engraçadíssimos. Meus pais tomavam uma cervejinha, comiam umas porções e conversavam com os amigos, moradores da região. A gente tomava tubaína e brincava lá fora.

Quando as férias acabavam e eu voltava para casa, para brincar com as minhas amigas gêmeas da casa ao lado, estava cheia de piolho. Então, antes de brincar com elas ou ir para a escola, era uma bela sessão de Kell na cabeça. Mas eu adorava. Era uma delícia deitar no colo da minha mãe e ela ficar fazendo uma massagenzinha gostosa com aquele shampoo fedido, para então pentear meu cabelo com um pente fino que vinha junto.

Depois de tudo isso, era voltar para a escola, voltar para a realidade da cidade grande, mas sempre sabendo que nas férias lá íamos nós de novo para Boituva.

Em 1992, mais ou menos, meus pais acharam que era hora de trocar o mato pela praia. Lembro de estar sentada na frente da porta, chorando e dizendo que não queria trocar aquela nossa casona por uma casinha. Na época eu tinha apenas nove anos e não entendi a lógica dos meus pais, mas hoje, quando lembro dos ótimos momentos que vivi em Itanhaém até os meus 18 anos, entendo perfeitamente. E, hoje, fica tudo isso na memória.

Um comentário:

Uma Ju disse...

amo vc, gaybis. simples assim. e é presente.
quando nos vemos?