quinta-feira, 21 de agosto de 2008

A gente tem medo da Branca de Neve!

Não, a gente não tem medo da coitada da Branca, a gente tem medo é da história de vida dela.

Já reparou que os contos de fadas antigos são um tanto macabros? É sempre uma bruxa má que joga encantos terríveis em princesinhas inofensivas. Uma recebeu um feitiço logo que nasceu e só porque era um pouco malandrinha e foi mexer na roca proibida, furou o dedo e dormiu por anos; a outra perdeu a mãe, depois o pai e passou a trabalhar como escrava para a madrasta e suas meio-irmãs, sem direito de curtir as festas do reino; a chapeuzinho teve que enfrentar um lobo que queria comer sua avó; outra ficou aprisionada numa torre tanto tempo que seus cabelos crescem a ponto de virarem uma corda hiper resistente; e assim vai.

Mas, para nós, a mais assustadora de todas é a história da Branca de Neve, princesa de cabelos negros como a noite, pele branca como a neve e lábios vermelhos como o sangue. Falando assim, parece realmente um conto de fadas fofo, mas...

A história começa com a morte da mãe de Branca. A menina que fica aos cuidados do pai, o Rei, que acaba se casando de novo. Algum tempo depois, ele também morre e a ambiciosa madrasta toma conta do reino. Vaidosa também, ela tem um espelho falante que lhe diz sempre que ela é a mulher mais bela do reino. Certo dia o espelho, percebendo que Branca de Neve estava se tornando uma mulher linda, diz à madrasta que ela não é a mais bela e sim sua enteada. É claro que a Rainha não gosta da idéia, assim como não gosta da menina, e fica enfurecida. Para se vingar, bola um plano macabro: manda um caçador levar Branca até a floresta e lá matá-la, arrancar seu coração e levá-lo para a Rainha em uma caixinha. Pavor, muito pavor.

Para o bem da nossa saúde, as coisas dão uma melhorada. O caçador sai atrás da princesa na floresta, mas não tem coragem de executá-la, deixando-a fugir. Em seu lugar, mata um animal e coloca o coração dentro da caixa. Branca, lógico, sai desesperada pela floresta, perdida, sozinha, abandonada, traída, com medo. E então se depara com uma micro casa. Sem escolha, invade a casinha e dorme por lá. Eis que de manhã aparecem sete anões muito esquisitos: Mestre, Zangado, Dengoso, Soneca, Feliz, Atchim, Dunga. Eles se assuntam, ela se assusta e ninguém se entende. A principio, eles não queriam abrigar a pobre menina, mas se rendem e acabam virando amigos. E quando Branca acha que pode respirar aliviada e seguir sua vidinha longe das maldades da madrasta, uma velhinha simpática surge em sua porta. Mas não, não é uma velhinha simpática, é a madrasta de novo, depois de descobrir a mentira do caçador. Ela envenena algumas maçãs e sai pela floresta atrás de Branca de Neve. Quando a encontra, oferece uma suculenta e vermelha maçã para a princesa, que, ingênua, come, se delicia e padece. O feitiço faz com que Branca durma pela eternidade até que seu príncipe encantado, que tinha um amor verdadeiro por ela (como se isso fosse possível à primeira vista), aparece e a beije. Bom, é um conto de fadas, então é claro que tem final feliz.

Mas para pra pensar friamente, esse conto é horrível! Só acontecem coisas ruins com a Branca. Ela é órfã de pai e mãe. Tem uma madrasta terrível que quer matá-la, se perde na floresta, encontra com anões, come uma maçã envenenada oferecida por uma bruxa horrorosa, jesuscristo! A parte “feliz” da história se dá quando o príncipe chega, o que na nossa opinião é totalmente machista. Pô, a coitada foi infeliz a história inteira e quando aparece um homem é que as coisas se resolvem? Sabemos muito bem que um mero beijinho de um príncipe supostamente encantado não é capaz de curar todos esses traumas!

Mas o mais arrepiante: imagine-se contando a história desse jeito para uma menininha de 6 anos... Medo!

É, a gente conheceu pessoalmente a Branca de Neve...

2 comentários:

Fê Nogueira disse...

Hahahahahahaa

É de longe, o nosso melhor texto!!!

Josie Moraes disse...

Fantástico! Por isso que todo mundo ama histórias de tragédia, acho que o conto de fadas é esperar o happy end depois de tanto sofrimento. Algo que indique que sofrer vale a pena!

Parabéns meninas!