segunda-feira, 9 de junho de 2008

Ter saudade no final da tarde

Faça o teste: tire férias do trabalho, compre uma passagem aérea (de preferência em promoção) e vá para aquele lugar que você sempre sonhou. No avião, espie a vista pela janela, repare na geografia, montanhas, rios, cidadezinhas e estradas lá em baixo, viaje no formato das nuvens, no sol, na lua e nas estrelas vistas lá de cima - tudo ao som da sua música predileta no iPod. É felicidade na certa, com direito a sorriso bobo.

Eu fiz isso. Tirei 18 dias de férias. Primeiro, fui para Ubatuba, na casa da Fê. Só amigos, muita risada, churrasco e descanso. Delícia!

Depois, embarquei para Natal. Cidade da minha mãe, terra dos meus avós. Minha avó nasceu num sítio em Alagadiço Grande, vila de Macaíba, cidade a 50km de Natal, onde teve minha mãe e meus cinco tios. Sempre quis ir para lá, lugar de onde vêm todas aquelas histórias, as lendas que minha avó contava, mas nunca tive uma oportunidade. Esse ano, fui praticamente obrigada pelo RH do meu trabalho a tirar até o fim de maio os dias que restavam de férias. Não deu tempo de combinar os dias com algum amigo e por isso decidi ir para lá e aproveitar a estadia na casa de uma das primas da minha mãe.

Eu adoro viajar sozinha. Já tinha feito isso na Europa e na Austrália. É um tempo para ficar comigo mesma e ter as minhas próprias descobertas, principalmente num lugar com tanta descoberta das minhas raízes – acho também que dessa vez nenhum amigo ia ter muito saco de ficar visitando os meus parentes distantes.
Bom, mala pronta e passagem na mão, embarquei para Natal. Quando cheguei lá, me dei conta de que não fazia a menor idéia do que esperar dessa viagem tão pouco programada. No primeiro dia, Alba, uma das primas da minha mãe, e Monteiro, seu marido, me buscaram no Aeroporto e me receberam em sua casa.

Natal é uma cidade grande e como eu estava sozinha e em busca de lugares mais tranquilos e diferentes, em Natal mesmo acabei ficando só dois dias inteiros. Como no segundo dia, que conheci Ponta Negra, a praia mais badalada da cidade e realmente muito bonita. Tem um calçadão para caminhar que vai até bem longe, passando pela Praia da Barreira D'água, que antigamente abrigava as dunas do Parque das Dunas e hoje tem grande parte dos hotéis de maior luxo da cidade. No fim da tarde, peguei um ônibus que passa pela Via Costeira, com vista para o mar e todos esses hotéis, e depois pelas praias ao norte, como da Areia Preta, dos Artistas, do Meio e do Forte, chegando a nova Ponte Forte Redinha. É um passeio simples e bacana, vale a pena se você tiver tempo.
Como eu não tinha nada muito programado para essas férias, a idéia era conhecer Natal, Pipa, fazer passeios de buggy e no máximo esticar até São Miguel do Gostoso, onde Alba e Monteiro têm uma casa. Mas um dos meus primos me convenceu a mudar um pouco os meus planos ao me perguntar “você vai a Noronha?” Mas eu vou deixar Fernando de Noronha para depois, porque merece um post exclusivo.


Bom, no terceiro dia fiz um passeio de buggy
às praias do litoral norte do Estado, até Muriú, passando pela famosa Genipabu. O roteiro inclui nove praias, dunas e lagoas. É um passeio óbvio, mas vale a pena, porque não dá para ir a primeira vez a Natal e não andar de buggy “com emoção”...

No dia seguinte, paguei por outro passeio, dessa vez para o sul, passando por várias praias, entre elas Pirangi (onde fica o maior cajueiro do mundo), Tabatinga (com parada no Mirante dos Golfinhos), Malembá (com piscinas naturais), a linda travessia de balsa em Tibau do Sul e os mirantes naturais de cima das falésias da Ponta do Madeiro e do Chapadão, já em Pipa. Passei dois dias em Pipa e fiquei na Pousada Praiana. E aí, posso ser do contra, mas confesso que não me apaixonei por Pipa. É uma vila bonitinha, com vários bares, restaurantes e lojas, bem no estilo de Ilhabela. Eu estava sozinha e o segundo dia choveu, talvez em outras condições a minha opinião fosse outra – por isso quando eu voltar a Natal quero voltar lá.

Na volta, peguei um ônibus e tive uma boa surpresa, pois era uma linha comum e passou por vários vilarejos bem simples, por uma estrada linda. Eu adoro ver essas coisas, a vida das pessoas locais. Adorei! De noite, já em Natal, jantei no restaurante Camarões com os meus primos. Se você for a Natal, coma por lá, é muito gostoso e tem pratos bem regionais.

Na manhã seguinte, fui com Alba e Monteiro para São Miguel do Gostoso. É uma cidadezinha a 100km ao norte de Natal, bem na curva do mapa do Brasil. Por isso, recebe vários tipos de vento e é o destino de muitos praticantes de windsurf e kitesurf. A praia é linda e nessa época do ano a maré fica mais baixa, liberando uma grande faixa de areia. O pôr-do-sol é um dos mais lindos que já vi, sem brincadeira. Lá, comi um caldo de arraia de-li-ci-o-so no Bar do Tico, onde também jantei de noite. Saí de São Miguel certa de que um dia eu volto e para ficar pelo menos uma semana.
Passei quatro dias em Fernando de Noronha, mas como disse, vou deixar para depois, porque aquele lugar é tão incrível que merece um post exclusivo.


De volta a Natal, separei o meu último dia para duas coisas especiais: a manhã inteira passeando pela terra da minha avó, conhecendo mais parentes e comprando comidas para levar para São Paulo, e a tarde comendo uma deliciosa caranguejada com Márcio, meu outro primo.
Alagadiço Grande é uma vila que faz parte de Macaíba, cidade a 50km de Natal - vizinha de São Gonçalo, onde será construído o maior aeroporto da América Latina, pois está é região brasileira mais próxima da Europa. Meus bisavós, Pai Coelho e Mãe Marica, tiveram seus 14 filhos lá, em um lindo sítio. Minha avó, Julieta, é uma das mais novas e se casou com o
meu avô Genival
nessa casa. Eles foram para Natal e lá tiveram seus seis filhos, entre eles minha mãe, a mais velha. Quando minha mãe tinha 10 anos e todos seus irmãos já haviam nascido, a família se mudou para São Paulo, mas meus avós voltavam todas as férias. Eles iam de carro, que era vendido por lá, e voltavam de avião. Então, são anos e anos de histórias que cresci ouvindo. Eu sempre adorei o fato de ter o sangue 100% brasileiro, de ser descendente de índios (por parte do meu avô materno, que na verdade nasceu na Paraíba) e chegar naquela casa foi uma emoção forte para mim, um energia muito boa.
Férias fechadas com chave de ouro. Agora estou de volta à realidade, muito mais leve e feliz. Afinal, moro no caos de São Paulo e tenho que aproveitar essa vida louca que levo como paulistana para ganhar o dinheiro que me permite viajar, viajar, viajar, a coisa que eu mais gosto nessa vida!


Para não perder o costume, uma música, que nesse caso foi a trilha sonora da minha viagem.

Num Dia
Arnaldo Antunes

sujar o pé de areia pra depois lavar na água
lavar o pé na água pra depois sujar de areia
esperar o vaga-lume piscar outra vez
ouvir a onda mais distante por trás da onda mais próxima
sujar o pé de areia pra depois lavar na água

respirar
sentir o sabor do que comer
caminhar
se chover, tomar chuva
não esperar nada acontecer
ser gentil com qualquer pessoa

sujar o pé de areia pra depois lavar na água
lavar o pé na água pra depois sujar de areia
esperar o vaga-lume piscar outra vez
ouvir a onda mais distante por trás da onda mais próxima

respirar
sentir o sabor do que comer
caminhar
se chover, tomar chuva
ter saudade no final da tarde
para quando escurecer esquecer
ao se deitar para dormir, dormir

3 comentários:

João Prado disse...

inveja mata mesmo?

beijos

Uma Ju disse...

gaybis,
que fofura essa volta às raizes.
endosso seu amigo aí de cima porque, poxa, não dá pra negar a invejinha (boa)...
beijoca e bem-vinda.

Unknown disse...

ADOREI!!!